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Thank you, Cuba

Visite a ilha de Fidel antes que ela se torne... do Tio Sam

O interesse de brasileiros por pacotes de viagem a Cuba aumentou desde que a ilha retomou relações diplomáticas com os Estados Unidos. O motivo reside na vontade dos turistas de conhecerem o país tal qual ele é hoje, fechado e socialista – antes, portanto, da provável transformação capitalista que o fará parecido com tantos outros destinos turísticos do mundo, repleto de lojas do McDonald’s e assemelhados (leia a respeito aqui, para assinantes da Folha de S. Paulo).

Uma intenção compreensível: até onde sei, o charme da ilha está justamente no pitoresco ar retrô-decadente que oferece ao viajante enfarado da modernidade norte-americana e das lições de uma remota história europeia.

Dois escritores canadenses, no entanto, não deixariam de esboçar um sorriso irônico ao tomarem conhecimento dessa notícia. Joseph Heath e Andrew Potter são autores de The Rebel Sell, livro no qual analisam, conforme promete o subtítulo, “como a contracultura tornou-se cultura de consumo”. Nele, dedicam um capítulo às viagens internacionais e, mais especificamente, àquelas que ocidentais de países desenvolvidos realizam ao terceiro mundo. Segundo os autores, esta seria uma forma de sentir-se liberto do capitalismo, visto como dizimador da diversidade e da autenticidade, ao buscar em terras pré-modernas uma espécie de exotismo purificador.

No entanto, os turistas não conseguiriam libertar-se totalmente das garras do mercado, pois, segundo os autores a) a viagem a tais lugares ter-se-ia tornado um bem posicional entre descolados e tribos afins; e b) a espontaneidade e o exotismo, nos países-destino, não seria mais que uma representação para turista ver, um mero produto teatral voltado a arrecadar alguns trocados de viajantes incautos e deslumbrados.

Além disso, o contato efêmero com os nativos de outras paragens incentivaria uma idealização da vida fora do entediante primeiro-mundismo em que estão mergulhados. O temor de parecer obtuso ao julgar culturas estrangeiras alimentaria um relativismo cheio de bonomia e tolerância, favorecendo um culto à pré-modernidade que, na prática, não passaria de fachada – servindo apenas a um discurso político superficial e oportunista. Culto esse representado pela cantora Alanis Morissette, que, depois de uma estada na Índia, teria voltado transformada e agradecida aos ensinamentos que o país lhe proporcionou (relatados na canção “Thank you, India”, que Heath e Potter aproveitam como título para o capítulo em que tratam do assunto).

A julgar pela nossa última campanha eleitoral, em que “vai pra Cuba!” tornou-se uma espécie de ofensa prontamente refutada – de modo a nem esquerda nem direita fazerem questão de se identificar com a ilha –, é bem plausível que as viagens à terra de Fidel sejam, de fato, apenas um desvio excêntrico do circuito tradicional das idas ao exterior – e uma charmosa maneira que brasileiros de todos os matizes ideológicos encontraram de expiar os pecados da gastança que usualmente promovem em lojas e restaurantes do primeiro mundo.

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