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Quem quer eleger um milionário

  • André D'Angelo
  • 28 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de set.

Os paradoxos do negócio futebol


Ouvi de mais de um aficionado gaúcho, durante o último Mundial de Clubes, que torceriam contra as equipes brasileiras na competição. O motivo: evitar que premiações polpudas entrassem nos cofres de Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense e tornassem ainda maiores as diferenças técnicas que os separam dos demais times nacionais. Repare: gremistas e colorados não estavam preocupados que um rival de outras paragens ostentasse um título inédito e ferisse os brios futebolísticos locais. Apenas constatavam aquilo que meu amigo Ilton Teitelbaum já apontava há quase 30 anos: "sem grana, a bola não rola".


Daí que a compra da Arena por um empresário pré-candidato à presidência do Grêmio, há duas semanas, tenha sido tratada quase como uma aquisição da cadeira de mandatário do clube, a vagar no fim do ano. Quem tem dinheiro para bancar um estádio deve tê-lo para contratar jogadores e tirar o tricolor da via-crúcis dos últimos anos.


Grandes aportes financeiros ajudam a resolver os problemas de campo, claro, mas não raro obscurecem outros, fora dele. Saudada como a grande dirigente do futebol brasileiro, a palmeirense Leila Pereira incorporava, há até pouco tempo, um visível conflito de interesses: suas empresas patrocinavam o clube que presidia, numa afronta à governança. O Flamengo, com suas finanças saneadas, segue errático na gestão do futebol, colecionando polêmicas e trocando de treinadores com a mesma frequência de tantos rivais menos abonados. John Textor, dono do Botafogo, já deu declarações tão despropositadas sobre arbitragem quanto qualquer dirigente amador do passado – sem falar que, recentemente, demitiu um técnico por não acatar que interferisse na escalação da equipe. E semana passada a SAF do Atlético Mineiro foi alvo de uma minirrebelião de jogadores por atraso nos salários. Grana, como se vê, não é sinônimo de "profissionalismo".


Se é que ele existe de fato. O futebol é difícil porque não tem uma racionalidade de referência, ao contrário de empresas privadas, que visam ao lucro. E como a relação causa-e-efeito entre tudo que acontece intramuros e os resultados nos gramados é sempre duvidosa, formar convicções sobre a maneira "certa" de gerir um clube parece ocioso. Tanto que a maior parte dos méritos e deméritos de um cartola é elencada a posteriori, com a tabela de classificação em mãos.


Há um paradoxo em tudo isso. O futebol é visto como um bom negócio porque envolve paixão clubística, aquela que sustenta bilheterias, audiências de TV e venda de merchandising, mas só se torna business puramente quando isola essa mesma paixão. Não por acaso ao comprar a SAF do São Caetano o empresário Jorge Machado tenha justificado: "Aqui não existe pressão. Qual SAF tem o melhor resultado no Brasil? O Bragantino, porque não existe pressão. Fora do Brasil funciona da mesma maneira". SAFs malsucedidas de clubes populares, como Vasco, Figueirense e Coritiba, que o digam.


O Grêmio não tem um histórico muito bom com a bonança financeira. Herdou as dívidas da falida ISL, fez um bad deal para construir a Arena e, agora, vê-se às voltas com um mecenas que constituiu uma espécie de poder paralelo à atual administração. Só resta torcer para que, desta vez, o clube não colha tempestades daqui a alguns anos – ou, para ficar numa imagem mais afeita ao novo benemérito, seja obrigado a comer o pão que o diabo amassou.

 
 
 

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