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Quem precisa de administradores...

... se as grandes empresas são comandadas por engenheiros?

Uma antiga suspeita minha foi comprovada pela edição de novembro da Época Negócios. Pesquisa com 120 CEOs de empresas que estão entre as maiores do Brasil mostrou que 48,3% deles é formado em Engenharia. Os administradores perfazem 28,3% e os economistas, 12,5% do total de presidentes. Já há bastante tempo desconfiava que, a despeito de supostamente ser o curso superior destinado a formar a elite organizacional dirigente, a Administração perdia para a Engenharia entre os principais executivos das corporações de grande porte. A questão é: por quê? A própria matéria oferece duas possíveis respostas para essa realidade. A primeira é a da que os cursos de Administração são mais recentes que os de Engenharia, e teriam custado mais a atrair os jovens interessados em carreiras organizacionais. “Somente a partir dos anos 80 as pessoas decidiram fazer administração como primeira opção na faculdade”, defendeu um consultor de RH. Isso justificaria a expectativa de que o percentual de egressos de Administração entre os CEOS cresça nos próximos anos. A segunda explicação, a meu ver mais plausível, entende que “o raciocínio lógico e o pragmatismo” dos engenheiros os tornam “um alvo preferencial das empresas”. Essa explicação vai ao encontro de algumas críticas em relação ao curso de Administração. Uma, a de constituir um aglomerado de conteúdos dispersos, de áreas e abordagens bem diferentes, incapazes de formar um todo homogêneo. O economista Marcelo Neri, atual presidente do IPEA, que chegou a cursar Administração, afirmou certa vez que, ao ingressar em Economia, percebeu “que a Administração era como uma colcha de retalhos, no sentido de que não há uma teoria por trás do negócio. É mais um conjunto de técnicas. O oposto de Economia, [que] tem um rigor teórico estruturado”. Embora alguns pudessem ironizar a afirmação sobre o suposto “rigor técnico estruturado” da Economia (a começar pelo economista-mor do Brasil, Delfim Netto), a alegação de que a Administração é uma coleção de técnicas dificilmente seria contestada. O dado é que a tal “colcha de retalhos” reflete a própria realidade das organizações, que combinam o lado “hard” da produção e das finanças com o lado mais “soft” do marketing e da gestão de pessoal. Por isso, é possível que os egressos da Administração se ressintam de uma formação mais direcionada – ou menos “aberta”, por assim dizer. Ainda que a maior parte dos cursos de Administração, hoje, ofereça linhas de concentração por áreas de interesse, o período de “especialização” é pequeno frente ao tempo que um estudante de engenharia destina-se a exercitar unicamente a lógica e o pragmatismo de que fala a revista: todos os quatro ou cinco anos que duram sua formação. Além disso, querendo ou não, é o lado “prático” que faz as organizações funcionarem. Deve parecer sempre mais seguro a um contratante colocar um profissional acostumado às lides duras dos números e dos processos no comando do negócio do que um sensível egresso do RH ou um criativo marketeiro. Não por acaso, aliás, os CEOs são oriundos das áreas comercial, operacional e financeira (em igual proporção, praticamente, com 28% cada). São essas as áreas que trazem receita para a empresa (vendas), fazem-na funcionar (operação) e controlam sua saúde monetária (finanças). Que garantem sua sobrevivência, afinal. De toda maneira, fica o alerta para os coordenadores de cursos de Administração. Talvez seja a hora de repensar o currículo do curso, suas opções de ênfase e a abordagem das disciplinas. Por mais que digam que sua missão não é formar presidentes, e sim gestores de qualquer nível, não parece favorável à reputação da atividade que o cargo máximo da maior parte das organizações seja ocupado por profissionais oriundos de um curso cuja missão precípua é bem menos ambiciosa que a da Administração – mas que, tudo indica, permite aos seus egressos desempenhar as tarefas típicas de um administrador tão bem quanto, senão melhor. Alerta semelhante cabe aos profissionais de Marketing, que perfazem apenas 7,4% dos CEOs. A chance de crescimento dentro de uma empresa passa pela capacidade de vê-la no todo, e não apenas como um portfólio de produtos, marcas e clientes, por mais importantes que sejam. E, também, em saber defender as decisões que toma e os investimentos que propõe, preferencialmente com números e cifras – uma língua que engenheiros, financistas e vendedores dominam como ninguém.

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