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Pense dentro da caixa...alheia

Por que criar, se copiar é muito mais fácil e garantido?


Inovação, cópia, Racing Point, Fórmula 1, Oded ShenkarNo próximo domingo (5) começa finalmente o campeonato mundial de Fórmula 1 de 2020. Pois lembro que, durante a semana de testes ocorrida em fevereiro, um carro em especial chamou a atenção: o da modesta equipe Racing Point. Não pela já característica cor rosa, incomum nas pistas, e sim por um detalhe que não passou despercebido dos aficionados: ele era uma cópia fiel do modelo usado pela supercampeã Mercedes-Benz no ano anterior (veja detalhes aqui). Apesar da surpresa de muitos e da indignação de alguns, tratava-se de uma decisão bastante óbvia, a meu ver: um time pequeno, em vez de gastar tempo e dinheiro desenvolvendo um bólido novo, do zero, opta por copiar o que o grande acaba de usar com sucesso. Mais pragmático e eficiente, impossível – tanto que é de se perguntar como ninguém havia pensado nisso antes (na verdade, pensou).


Oded Shenkar adoraria ler esta notícia. Autor de "Copycats: melhor que o original" (ed. Saraiva, 2011), ele é um aberto defensor da cópia como estratégia empresarial. Razões para isso não faltariam: além de mais rápida e barata, a cópia permite capturar mais valor que a inovação. Estudo que cobriu mais de meio século de negócios mostrou que os inovadores capturaram apenas 2,2% do valor criado por suas criações. O restante ficou com os imitadores.


Como? Por quê?


Shenkar responde: "Como a maioria dos ganhos de produtividade não surge com a inovação original, mas dos aperfeiçoamentos subsequentes, os imitadores estão quase sempre mais bem posicionados para oferecer ao consumidor algo que não é apenas potencialmente melhor, mas também consideravelmente mais barato" (p. 22-23).

A Apple é um caso típico de um imitador de muitíssimo sucesso. Não criou a interface gráfica dos computadores, copiou-a da Xerox. Nem inventou tocadores de música digital, telefones com tela sensível ao toque ou tablets, apenas aperfeiçoou-os e esperou o timing mais adequado para lançá-los.


Numa era que supervaloriza a #inovação e o #pensarforadacaixa, o case Racing Point nos lembra que, às vezes, o melhor é pensar dentro da caixa...alheia. Nem que seja aquela em que repousa o que já foi descartado pelo vizinho bem-sucedido.

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