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Desculpas sinceras

Homens se esquivam das tarefas domésticas. Por quê?


Leio que a Brastemp acaba de lançar uma nova campanha publicitária. Apropriadamente batizada de "desculpas deslavadas", a fabricante de eletrodomésticos propõe equidade na divisão das tarefas de casa entre homens e mulheres (detalhes, aqui). Como mote, vale-se dos pretextos que maridos, filhos, namorados e namoridos utilizam para se eximir das responsabilidades: "quando fui fazer, você já tinha feito", "eu não sei como faz", "eu ia fazer depois" e outros tantos bordões que você já usou ou ouviu. #QuemNunca?


A abordagem é interessante, mas não inédita. Em 2012 a P&G fez o primeiro comercial de TV em que colocava um pai de família no papel de responsável pela lavagem de roupas. E lançou produtos à prova da incompetência masculina, como uma barra de sabão que era colada no tambor da máquina de lavar (para evitar esquecimento) e um amaciante em formato cápsula (para prevenir escassez ou excesso do produto no compartimento). Um ano depois, a Bombril colocou famosas a exortar o mulherio a colocar o macharedo para lavar louça e roupa.


As boas intenções de Bombril e Brastemp enfrentam um obstáculo cultural, contudo. Homens podem até ajudar nas tarefas domésticas, mas do jeito e no timing deles. Motivo: dão menos importância à limpeza e à organização de uma residência, pois não são avaliados por esses atributos. Mulheres, ao contrário, independentemente dos papeis que desempenham, nunca deixam de ser donas de casa, morem sozinhas ou acompanhadas. Por isso, "são julgadas com mais severidade se a casa estiver suja ou desarrumada" (The Wall Street Journal of Americas, 06/12/12).


Daí que as escusas que a Brastemp arrolou em sua campanha talvez não possam ser totalmente atribuídas ao cinismo masculino. Não saber como faz, deixar para depois ou "fazer de má vontade", como dizia a minha mãe, reflete o pouco caso com que o sexo masculino trata o assunto. E "quanto mais exigente for a mulher (...), mais provável é que o homem se afaste da mesa de negociações". O resultado? Ele "é, na melhor das hipóteses, um ajudante" (idem).


Nada que não possa mudar, claro. E há antecedentes em ambos os lados. Devido às atribuições não domésticas que as mulheres assumiram, por exemplo, seu comportamento de compra passou a assemelhar-se ao do homem: mais rápido e menos detalhista, em função da falta de tempo. E do lado masculino, quem sabe um fenômeno cultural à semelhança da metrossexualidade (relembre) não crie donos de casa mais ciosos?


Mas daí, claro, há que se esperar pela transição de gerações até que a mudança se concretize. O ex-presidente Fernando Henrique, nascido em 1931, disse certa vez que "para um homem da minha geração, assumir atribuições dessa natureza (trabalho doméstico) beira o absurdo. Às vezes eu tirava a louça da mesa após as refeições. Foi o máximo de concessão que me permiti" (Bravo!, 2012).


Resumindo: ainda haverá uma montanha de desculpas deslavadas pela frente.

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