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Nova etapa do luxo é o setor de serviços, diz especialista

Mercado ainda se expande no país porque é novidade, diz autor de "Precisar, Não Precisa - Um Olhar Sobre o Consumo de Luxo no Brasil". Escritor prevê "desmaterialização" do consumo, com avanço do conceito de bem-estar

Por Cristina Tardáguila

No universo do luxo, a necessidade não existe, só o desejo. A afirmação é de André Cauduro D'Angelo, autor do livro "Precisar, Não Precisa - Um Olhar Sobre o Consumo de Luxo no Brasil", que será lançado pela Lazuli Editora no início deste mês. "O luxo é o consumo do desejo, do prazer. A pergunta "Eu preciso disso?" não cabe. Precisar, ninguém precisa, mas quer", diz ele. Para o administrador e diretor da empresa Think! Marketing & Cultura de Consumo, esse mercado se expande no país porque ainda é novidade. E prevê uma "desmaterialização do luxo", com sua transformação no conceito de "se sentir bem".

FOLHA - O que difere o comércio de luxo do tradicional? ANDRÉ CAUDURO D'ANGELO - O comércio de luxo é orientado pela emoção e pelo simbólico. Quando se fala em comprar, falamos em adquirir o que nos permita sobreviver. No universo do luxo, a necessidade não existe, só o desejo. O luxo é o consumo do desejo, do prazer. Nele, a pergunta "Mas eu preciso disso?" não cabe. Precisar, ninguém precisa, mas quer.

FOLHA - Que outros fatores impulsionam esse mercado? D'ANGELO - A valorização das marcas e a identificação delas como ícones de reconhecimento social e código de grupos são dois fatores. Mas essa percepção depende da circulação de informações, da variedade nos grupos sociais e da tolerância a comportamentos fora do padrão, características de centros modernos. O consumo é um aprendizado. Em cidades pequenas, mesmo que a população seja rica, ele não existe ou é limitado. Por isso, destacam-se só SP, Rio e Brasília. Por mais alta que a renda per capita seja, o provincianismo impede que o consumo de luxo prospere porque não há desejo.

FOLHA - Quem consome luxo aqui? D'ANGELO - O consumidor brasileiro de bens de luxo pertence às classes média e alta, como no Primeiro Mundo. Suas características não diferem das dos demais, mas ele não se importa com a distinção social ante aqueles que não adquirem produtos de luxo, e sim entre quem o faz. É menos uma batalha material, de comprar mais e mais caro, e mais uma batalha simbólica, ancorada em conceitos abstratos sobre certo e errado.

FOLHA - Quais vantagens do crescimento do mercado de luxo no país? D'ANGELO - Economicamente é positivo: gera empregos, movimenta dinheiro e desenvolve empresas. Moralmente, podemos cair num clichê e dizer que é a representação mais clara das injustiças sociais. Mas, se alguém trabalha duro, ganha dinheiro honestamente, por que haveria de se privar de um prazer em nome de uma pretensa consciência coletiva?

FOLHA - Aonde vai o consumo de luxo? D'ANGELO - Há uma tendência de desmaterialização do luxo, de sua transformação em um produto-conceito: de sentir-se bem, proporcionar-se prazer, um momento para cuidar de si. Um dos próximos saltos do luxo será no setor de serviços.

Entrevista à Folha de São Paulo, 3 de dezembro de 2006.

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